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Às vezes a imaginação falha, o sorriso esconde-se, as ideias ficam com ressaca e a vontade esgota-se. Depois, é preciso deixar que o pensamento esboce a dureza das palavras expostas. É ser sem parecer, e escrever mesmo sem crer.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

67. Avó

Agora que comemoras mais um ano da tua "curtíssima" vida, gostava de poder escrever mil e uma palavras, iguais ao meu pensamento neste instante.

Hoje, quando olho para cada uma das velhotas fotografias que encontro lembro-me muito vagamente de cada palavra que muito me dizias, das mais antigas e maravilhosas recordações, do teu sorriso, do cheiro do teu maravilhoso cacau, que se eu pudesse voltava atrás só para os repetir duas vezes.

Gostava de poder até estar sempre presente, ou sentir como tu as coisas. Como tu dizes “No fim, o mundo não importa nada.”

Sentir que te faço falta é gratificante.



Sabes? Ainda hoje quando me sento ao teu lado naquele sofá que eu detesto, gosto de ouvir as tuas histórias, tal e qual como fazias-me em pequena. Sempre gostei de saber como eram as coisas no “antigamente”, quando eras da minha idade.

Sempre que me olhavas, e ainda hoje me olhas com os teus olhos arrebitados, eu já sei que tens uma nova história para contar-me ou então que estás feliz por me ver. Tal como esta “ Eras tu ainda muito pequenina, e já andavas enrolada em brigas e discussões, sempre tão atarefada com os teus negócios e problemas no jardim-de-infância e mesmo assim resolvias tudo sozinha, sem contar com a ajuda de ninguém. Dava-me e ainda me dá imensa piada quando ouço contar a tua vida de criança Telma, ora mal de alguém que se metesse com a Mónica, notavas logo.

Coitada da criança que tivesse esse azar, a qualquer um batias e mantinhas sempre a postura forte e arrebatadora (Sempre foste uma menina rebelde e ainda o és, cada vez mais). Só sei que se um dia encontrasses esses tais que a maltratavam, quando o apanhavas a preceito, trás!

No dia em que a tua mãe nos contou isto, reparei que te estavas a tornar numa menina madura e independente”.

Ou então quando, “eu te encontrava com o nariz enfiada nas minhas gavetas e me dizias que te divertias mexer em tudo o que era e é meu”, ou até mesmo quando tinha vontade de mais qualquer coisa, levantava-me sozinha da cama muito sorrateira. Lembras-te? Dizias sempre “ Que mulher forte que eu estou a criar”.

Dizias-me sempre tudo com um sorriso nos lábios, e nunca te zangaste comigo por eu ser “diferente”.

O tempo passou, é verdade avó, eu cresci e tu envelheceste tão depressa. Como acontece com toda a gente, é óbvio. Não me importava de voltar a ter novamente 3 anos para puder ficar o dia todo contigo outra vez, ou voltar a fazer todas as nossas caminhadas até á mercearia mais próxima. Sabes, tenho saudades daquelas pastilhas que só tu sabes onde existem.

Eu voltava, só para ouvir as tuas histórias outra vez, só para ter a certeza que mais 18 anos ao teu lado não me tiravam de certeza. É impossível não ter saudades tuas naqueles dias em que nem te meto a vista em cima. O teu cheiro a velhota faz-me recordar de tanta coisa!

És um grande Mulher! Os teus 81 anos comparados com os meus 18 não são nada! A minha idade sim, é que já pesa. Ou pensas que viver tanto tempo ao teu lado e perto de ti, é fácil?

Só agora tive tempo de escrever alguma coisa dedicada a ti, hoje comemoras mais um ano de existência no meio de tantos outros já passados.

Mais uma vez, Parabéns avó!

Telma

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Memórias do Meu Pensamento