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Às vezes a imaginação falha, o sorriso esconde-se, as ideias ficam com ressaca e a vontade esgota-se. Depois, é preciso deixar que o pensamento esboce a dureza das palavras expostas. É ser sem parecer, e escrever mesmo sem crer.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

168. Inferno Vital

Enterrei a cabeça na almofada.
Estava com muita raiva, de mim mesma, das minhas opções passadas e de tudo aquilo que abrangesse o meu bem-estar, as minhas escolhas e tudo o resto que me inclui por completo.
Sabes, não é preciso ser Deus, arquitecto, médico ou mágico para saber o peso que a vida tem. Basta ser gente, ser genuíno. Desde cedo que tive que crescer muito depressa e compreender assuntos impróprios para a minha idade. Sempre vivi com tudo isto e com tudo o que ele engloba.
É muito difícil deitar-te fora, esquecer que tu existes por uns pequenos momentos porque, na verdade, estás e estarás comigo para sempre.
Não te desprezo, pergunto-me sim, porque a mim.
Tantas perguntas que nunca obtenho uma resposta concreta que seja e, mesmo que as faça surgir num outro ambiente mais oportuno a resposta que reverte a meu favor e que eu deixo cair em mim é "porque não? É preciso aceitar-nos!" - nunca pensei que fosse tão fácil e tão difícil destruir-te, libertar-me de ti e deixar-te ir embora, porque não consigo, porque não posso.
Pertences-me por inteiro, por completo, por uma imensidão de anos, séculos. Afinal, contamos apenas com uma vida que é certa e o que vem a seguir é incógnito.
Deixei de acreditar que Deus existia, sempre que precisei dele, nunca esteve para me ajudar, para me ouvir, para me compreender. Sempre que mais precisei dele, nunca o senti perto que fosse.
Fui eu que tive de seguir em frente sozinha, caminhar neste longo caminho, ultrapassar todas as fases desta dura caminhada e seguir para as próximas etapas.
Não sei se continuo preparada para o próximo raund de sobrevivência. Somos nós que comandamos a nossa vida e é isso que vale, porque se estivesse-mos na mão desse tal "Deus" não sei onde estaríamos, onde eu estaria.
Acredito plenamente no "por acaso" e que se acontece por alguma razão foi.
Já me aconteceu muito.
Já cresci, já tenho mais idade do que aquilo que aparento ter, já construí uma história, uma sonho, uma vida, uma lenda.
Poucos saberão tão dolorosa é esta dor que nos consome, doentes da vida. Poucos adquirem do dom de querer conhecer e entender como tudo funciona.
- A morte não deve ser entendida como um até já, mas como um repouso eterno, deste inferno vital. Alguém que seja, devia entender-nos, principalmente a nós, doentes crónicos, que a vida já nos largou à muito tempo, desde que nos privou de vive-la com toda a intensidade que existe.
Já perdi a conta dos anos que tudo isto me acompanha. Mas ainda me lembro de como tudo começa - mais simples do que um estalar de dedos, do que uma pontada no peito, do que um sorriso.
Tudo começa bem junto ao limite, junto à mesma corda bamba que nos acompanha em toda a nossa caminhada.
É preciso ter peso e medida para poder suportar o que de bom e de mau acontece, não é preciso ter poder de encaixe, nem ter um ritual todo manhoso, a anatomia do corpo tratar-se-à de nos levar ao encontro que tanto precisamos que tanto esperamos - O repouso incondicional de tudo e de todos.

Parei de chorar, levantei a cabeça e vi que tudo continuava ali, imóvel, à espera que eu muda-se algo. Levantei-me, hirta e firme, pronta para seguir em frente.
A almofada estava realmente toda molhada, ainda bem que (ainda) não se paga por chorar, porque é isso que me acontece todos os dias, àquela hora da noite ... àquela hora do dia.

Telma Palma

9 comentários:

  1. vou estar sempre aqui para ti, meu grande amor <3

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  2. Eu sei =)
    Obrigado por aturares as minhas horas más, o meu mau feitio, a minha má disposição, desabafos e tudo o resto!

    <3

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  3. Detesto quando falas nessa cena do repouso --'

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  4. Lindo texto. O universo em toda a sua complexidade existe e a terra esta sob o dominio do anjo mau por isto vivenciamos felicidades e tristezas mas o homem em sua essencia pura deseja o bem, protege os seus,quer ser feliz porem a felicidade plena se dara em um novo mundo.Este mundo no agora e uma passagem ou seja e uma provacao.Deus em toda a sua plenitude nos resgatara. Eu acretito pela fe que tenho no Deus do impossivel. A fe e algo que nao se pode medir apenas sentir e para sentir o coracao tem que estar aberto para o toque de Jesus.

    Parabens Telma por sua criativida e esforcos que seja sempre abencoada. Um abraco.

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