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Às vezes a imaginação falha, o sorriso esconde-se, as ideias ficam com ressaca e a vontade esgota-se. Depois, é preciso deixar que o pensamento esboce a dureza das palavras expostas. É ser sem parecer, e escrever mesmo sem crer.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

179. Vergonha

"(...) Fomos de Metro, uma vez para lá, outra para cá. A mãe chegou a confessar – não gosto de andar de metro, tenho medo! – Pois eu estava mortinha por andar ali horas e horas a fio, para onde fosse preciso.
Voltamos cedo.
De manhã, às 8h já estava no Hospital como combinado (acrescento milhares e milhares de vezes que, se soubesse o que sei hoje não me tinha metido nisto, da forma como foi). É importante referir que nunca me arrependi de nada do que tenho feito até hoje e que tudo o que me acontece só me faz crescer.
Hoje, já posso dizer que arrependo-me de quase tudo pelo que passei nestes últimos dias, podia ter evitado muitas causas dolorosas, quer a mim quer aos meus. Podia ter escondido durante mais um tempo, tudo aquilo que transporta há anos mas, a vontade de ir , fazer, querer, tentar e ver resultados sobrepõe-se sempre ao dito medo permanente que casa ser humano acarreta.
É difícil descrever tudo aquilo por que se passa dentro de um Hospital, tudo aquilo por que previamente não somos preparados mas que no fundo, conseguimos compreender, que ali, somos um todo.
O medo quebra-nos e se não nos apercebemos dos cortes acabamos por nos cortar ainda mais com aquilo que a vida nos dá e que por alguma eventualidade deixamos que nos corte.
Ás vezes, um Obrigado não chega, porque (tal como a prof. de Português referiu) é difícil exprimir em palavras o que sentimos.
Já me senti melhor e pior, agora estou em Paz. Comigo.
Para quem pensa que a vida é cor-de-rosa, aconselho seguramente que procurem ajuda Psicológica porque neste Mundo quem não sofre não é gente, não vive.
(...) Foi como se tivesse tido um súbito ataque de pânico ou raiva, que nem mesmo eu conseguia controlar. Senti dor, muita dor. Talvez como se nunca tivesse sentido.
Chorei, choravam comigo e mesmo assim não reagia a qualquer tipo de fármaco.
Tive dias maus, complicados e que me deixavam num estado deprimente. Senti-me cheia de mim.
Custa sempre.
Nada se sobrepõe à vergonha porque que se passa após a primeira saída à rua. Mas mesmo assim, não chorei. Tinha a cabeça ocupada a pensar que em menos de 5 horas estava em casa.
Talvez, doesse mais o olhar do que as próprias palavras naquele momento.
(...) Da boca da minha Mãe, só ouvia palavras doces e reconfortantes que me acalmavam o ego. Sentia-me uma menina frágil, sozinha e ansiosa com os resultados (tenho memória de sonhar com isto desde pequena).
Chorei todos os dias que estive internada, pelas dores insuportáveis que senti, pela ausência do exterior e por aquilo que tinha noção que iria perder.
(...) é difícil lidar com a "nova" Telma, mas tenho acabado por aprender com ela e a compreender alguns itens pendentes na vida.
(...) Foi a segunda vez que vi o meu Pai chorar. Foi como se o meu coração tivesse rachado naquele preciso instante. A dor quase que desapareceu por completo. Abraseio e disse - Vamos para casa."

25-03-2011

Telma Palma


2 comentários:

  1. Este é só um dos melhores que já li!
    Adorei

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  2. és o teu próprio apoio e ainda bem que assim o é téé, tens vivido tudo da melhor forma e nunca deixas ninguém para trás.
    obrigado por nos levantares sempre que alguém nos empurra. <3
    Estou aqui.

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Memórias do Meu Pensamento