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Às vezes a imaginação falha, o sorriso esconde-se, as ideias ficam com ressaca e a vontade esgota-se. Depois, é preciso deixar que o pensamento esboce a dureza das palavras expostas. É ser sem parecer, e escrever mesmo sem crer.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

206. VALE

Será impossível explicar o sentido que se fez sentir em torno das películas envolventes no acto. É necessário envolver-se para que (no mínimo) exista compreensão na penetração do ensaio e na estreia nacional.
O público gosta, reage e envolve-se apenas e só quando o conteúdo é elegante e não exige suplica. A cena apenas termina quando o actor sai do palco principal, quando as luzes se apagam e o pano fecha.
Rasguei a pele de tanto sentir saudades do plano principal, da encenação com o público e da conspiração contra o tempo.
Cortei as assas por não conseguir chegar mais perto, sangrei por todos os poros, inalei aquele ar que me consumia por apenas uma hora e meia de espetáculo e deixei que o pano cai-se suavemente para poder sentir tudo a trespassar-me o corpo e a alma.
Vagueei vezes sem conta, no pensamento ofuscante que a alma não deixa corroer de saudade, castigo-me por perder estes tempos que se avizinham dentro da família do grande VALE e deixo-me derreter por entre o erótico e selvagem.
As cenas soavam a jasmim. O perfume que pairava no ar enlouquecia-me e levava-me a querer ficar sempre perto das luzes que nos faziam brilhar.
Deixava então escorregar o naperon, num suave empurrão para a cabeça, elevitava então as mãos novamente e num ar provocador componha o dito no cabelo. Pregava-o com os ganchinhos pretos, junto à razão.
O vestido assentava que nem uma luva, girava como uma corda bamba, um disco dos anos 50 e por ali ficamos uma hora e meia a dançar! Repito, a dançar!
Não era preciso esforço, bastava dedicação e empenho pelo movimento, pela audácia em querer mostrar a natureza em estado selvagem. Eu, era parte do conjunto de meninas que na época enlouqueciam com a bravura dos cavalheiros e tinha a importante tarefa de me divertir acima de tudo.
O VALE, trouxe harmonia, amigos, bons amigos e uma importante conjugação a nível de muitas outras dificuldades.
Houve quem deixasse as diferenças atrás do olhar atento do expectador, debaixo da roupa monótona do dia-a-dia ou até dentro do camarim. Deixamos que aquela nostalgia se penetrasse no momento e fez-se surgir a estreia. E que saudades de usar aquela trança embutida com o batom cor-de-rosa e toda a toalete à mistura.
Gostei de sentir o chão a gelar-me o corpo, de concentrar-me em fazer desaparecer o nervoso miudinho. Não senti borboletas na barriga, senti gaivotas a voar em altas altitudes e a comerem o peixe da ria formosa. A música ainda paira no meu ouvido e de vez em quando, dou uma espreitadela pela página da grande Família!
Obrigado VALE.

Telma Palma

3 comentários:

  1. <3 Adorei a estreia! Sabes bem!

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  2. Eu também fiz parte da família do Vale em Almada e foi sensacional!!!

    Ainda hoje oiço a música do Carlos Bica no "Baile"

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Memórias do Meu Pensamento